A frase não é minha, quem o diz é Emma Pattee, jornalista especializada em questões climáticas que em 2021, cunhou o termo "climate shadow" (sombra climática) para descrever o impacto potencial de um indivíduo nas mudanças climáticas, indo além da tradicional pegada de carbono para incluir todas as escolhas de vida que afectam o meio ambiente, directa ou indirectamente.
Nos últimos anos, a "pegada de carbono" tornou-se uma expressão comum, quase banal. Todos já ouvimos falar sobre a importância de reduzir as nossas emissões de CO2 - desde andar de bicicleta para o trabalho até optar por produtos orgânicos. Mas tudo indica que focarmo-nos apenas na nossa pegada de carbono pode ser insuficiente. E que é hora de alargar a nossa visão e compreender um conceito mais abrangente: a sombra climática. A pegada de carbono, apesar de útil, é uma métrica limitada. Ela mede apenas as emissões directas de gases de efeito estufa provenientes das nossas actividades diárias, como o tipo de carro que conduzimos ou o tipo de energias que consumimos.
No entanto, a realidade das nossas vidas é um pouco mais complexa. Cada decisão que tomamos - desde onde vivemos até em quem votamos - tem implicações ambientais profundas e duradouras. E é exactamente aqui que entra a sombra climática, uma avaliação mais abrangente de como todas as nossas acções impactam no nosso planeta. Isto inclui opções como a escolha da nossa residência e a localização da nossa casa, o tipo de construção. O nosso padrão de consumo tem um impacto directo pois cada produto que compramos carrega a sua história ambiental. Desde a produção até ao transporte e descarte, as nossas escolhas de consumo determinam o tipo de economia que apoiamos. Escolher eletrodomésticos que consomem menos energia, optar por produtos sustentáveis ou por produtos locais que carecem de menos esforço de transporte, pode diminuir a nossa sombra climática.
A reciclagem, a reutilização para minimizar o desperdício e até a compostagem dos resíduos orgânicos para alimentar um jardim ou uma pequena lavra, também ajudam, assim como o uso consciente da água ou até mesmo de técnicas de captação de água das chuvas. Mas até mesmo as nossas escolhas financeiras, os nossos investimentos, o dinheiro que colocamos nos bancos e fundos de investimento muitas vezes financia indústrias de combustíveis fósseis. Escolher instituições que priorizam investimentos verdes pode ajudar a reverter este impacto.
A acção política, a maneira como votamos e as políticas que apoiamos têm um efeito cascata. Eleger líderes comprometidos com a sustentabilidade pode transformar as políticas nacionais e internacionais de combate às mudanças climáticas. E claro, a educação e a consciencialização de quem nos rodeia, começando em casa e ampliando a nossa influência social ao bairro e até ao local de trabalho. As nossas acções inspiram os outros, por exemplo promover um estilo de vida sustentável nas redes sociais pode multiplicar os efeitos positivos, simples assim! E por que é que me importa a mim essa Sombra Climática? Porque ela reconhece que as minhas escolhas são interdependentes e que o verdadeiro poder de mudança reside na forma como influenciamos o sistema como um todo, revelando como cada aspecto da minha vida contribui para o impacto ambiental. Afinal, é a sombra que eu projecto no Mundo que realmente molda o futuro do nosso planeta.